Conceitos de Cultura Digital
Ao se falar em cultura se traz Geertz (1989, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 2) para elucidar o conceito, quando ele diz que cultura é um fenômeno histórico e social. Segundo Geertz “A cultura de um povo é um conjunto de textos que o antropólogo tenta ler por sobre os ombros daqueles a quem eles pertencem”. Para ser mais precisos diante desse conceito a visão de Bakhtin (1992, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 2) é necessário, quando diz “A lógica da consciência é a lógica da comunicação ideológica, da interação semiótica de um grupo social. ” Bakhtin e Geertz interpretam o conceito de cultura, e dessa forma pode-se entender o conceito de Cultura Digital.
As últimas pesquisas sobre o uso de celulares no Brasil informam que a maioria da população, mais de 87% dos brasileiros, conectam-se à rede de dados móveis. Basta caminhar alguns minutos pelas vias públicas para verificar o resultado desta pesquisa, os transeuntes, na sua maioria, caminham e falam ao telefone celular, nos restaurantes, nos aeroportos, no trabalho (quando permitido), nas escolas (quando permitido) observamos as pessoas se comunicando através da tecnologia. Por ter um custo acessível à todas as classes sociais seu uso se democratizou estando presente em todos os lugares.
Inicialmente, a comunicação e a informação que deram origem a uma nova linguagem que emerge da relação entre a sociedade, a cultura e as tecnologias, que surgiram com a convergência das telecomunicações e da informática a partir da década de 70, foi denominada por Levy (1999, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3) de Cibercultura.
A Cibercultura se caracterizou pelo uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que se inseriam em todos os sistemas, não apenas na utilização dos computadores. Dessa forma, apropria-se da Cibercultura para viver de forma colaborativa e integrada, propiciando a cooperação entre os seres e ambientes, permitindo uma nova configuração de sociedade, em que a informação tem rapidez e eficiência. Segundo Vieira (2005, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3) “as fronteiras erigidas pela localização geográfica são ultrapassadas e, com elas, as limitações impostas pelo tempo.”
Hoje, a mobilidade do saber, que se deu a partir dos recursos criados para comunicação e principalmente as TDIC, ganha forca quando o celular se liga as redes de internet e aos acessos wifi criando possibilidade de pesquisa e de conhecimento, interconectando o mundo, ligando pessoas, quebrando as barreiras do tempo e do espaço, designando uma nova cultura.
Que teve seu start no bojo do Capitalismos e nos eventos concomitantes como a Segunda Guerra, a Guerra Fria, a descoberta do Sistema Binário, os computadores, a Contracultura, a Globalização que, por sua vez, desencadearam uma série de fenômenos dando origem a realidade virtual, criando a comunicação instantânea, a inteligência artificial, a World Wide Web, a internet, a conectividade global, a música eletrônica, a televisão digital, os jogos de computador, o celular e a comunicação digital, o quadro digital da sala de aula, o cyberpunk, o tecno, a new typography, a net.art e, ainda hoje, continua criando novos fenômenos que se apoiam em duas convicções: na ideia de cultura ruptura e na crença da cultura digital gerada pela tecnologia digital e afirmada como marca de uma cultura distinta.
O antropólogo Canevacci (2015, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3), aponta que a Cultura Digital desafia a clássica distinção entre espaço e tempo, pois rompe com o pensamento dualista hegemônico e cria a noção de "ubiquitempo", neologismo que defini, do ponto de vista etnográfico de Canevacci, "as experiências descentradas e não-lineares de espaço-tempo, favorecidas pela comunicação digital contemporânea”.
Além de Canevacci (2015, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3) o conceito de Aldeia Global de Mcluhan (1964), de Globalização, dimensão local na produção de uma cultura global interpretado por Robertson (1992 e 2000) e o Conectivismo de Siemens (2004), que vê a cultura digital como recurso de aprendizagem com as barreiras e fronteiras ultrapassadas, surge a necessidade de pensarmos a educação de outra maneira, rever conceitos e elaborar pensamentos que possam nos adequar à nova situação.
Maria Cândida Moraes explicita a respeito do paradigma educacional emergente (2010, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3) e a teia de interações e relações existentes entre os fenômenos educacionais e as teorias cientificas desenvolvida ao longo das épocas e que marcaram o modo de ver o mundo, de ensinar e de aprender, que faz-se necessário a busca de um novo referencial para educação e de novos ambientes de aprendizagem, que possam de certa forma, incorporar avanços científicos e a participação do sujeito holístico na construção do conhecimento, em que os atores da educação professor e aluno, o mundo ao redor e as tecnologias se envolvam sem fragmentações em sistema aberto. Isso tem sido foco de preocupação de vários cientistas como Levy (1999, apud BOUCHERVILLE, 2018, p. 3) que percebe a comunicação tem que ter uma nova linguagem que emerge da relação convergente entre a sociedade, a cultura e as tecnologias; Perrenoud (2002) que avalia os desafios e as competências para o ensinar no século XXI, Charlot (2005)a relação com o saber, formação de professores e a globalização de um ponto de vista reformulado e reproblematizado; e Coll (2010) que cuida de olhar os processos psicológicos envolvidos na aprendizagem virtual.
Todo esse arcabouço teórico se faz necessário na interpretação do mundo globalizado, em que a maior parte dos sujeitos se conectam constantemente sem prejuízo de tempo e de espaço, proporcionando ao ensino e a aprendizagem algo nunca visto anteriormente, mas que necessita de elementos que possam transportar o saber da cultura digital para o espaço educativo.
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